segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Par ou ímpar

Ontem à tarde, eu e meu marido fomos prestigiar a dupla gaúcha Kleiton e Kledir na Virada Cultural. Um dia antes, vi no twitter dos dois que iriam apresentar o novo trabalho Par ou Ímpar, juntamente com o Grupo Tholl, voltado ao público infantil. E quem disse que é somente para as crianças? Os adultos adoraram, vibraram, riram, aplaudiram e até o sol apareceu, logo ele que estava encoberto por nuvens algumas horas antes.

Fiquei um tempo na frente do palco e depois atrás e pude presenciar a correria dos integrantes do Tholl  para trocarem de roupa rapidamente sem perder o humor. Mesmo na pressa, escutava comentários divertidos e brincalhões entre os artistas circenses que algumas vezes se esbarraram no corre-corre do desce e sobe do palco, como formigas que se encontram e dão leves "beijinhos" umas nas outras.

Sabe quando os pais saem com as crianças e estas ficam muitas vezes aborrecidas por fazerem programas que consideram chatos? Ficam puxando os pais, fazem birra? Pois, ontem, presenciei várias crianças que pararam para ver e os pais precisaram chamá-las. Mas, também se encantaram e pararam para assistir ao espetáculo. Que adulto não retorna ao mundo infantil quando vê o circo?

Porém, um jornalista da Gazeta do Povo escreveu que o público se frustrou com o show que classificou como "sem graça" porque no repertório não estavam os antigos sucessos da dupla. Ou será que foi ele que não gostou? Sim, certamente, pois quem gosta da dupla, mesmo esperando pelas canções conhecidas não se decepcionou com a apresentação. E quem não conhecia muito o trabalho dos irmãos também se encantou. Como classificar como sem graça um espetáculo com coloridos e circo?

O tal jornalista teve até mesmo a audácia de reclamar do sol, será que estava querendo culpar os músicos pela presença do astro rei? Afinal, ele veio nos brindar, mesmo com a previsão de chuva. Aliás, curitibano que é curitibano anda precavido de sombrinha ou de guarda-chuva sempre. E eles serviram para a proteção dos raios solares, mesmo porque ninguém quer arriscar a saúde da pele, e com razão! Então, fomos para trás do palco, onde havia sombra, pois não havia passado protetor solar (e que essa falha não sirva de exemplo para ninguém). Ali, mesmo com o som alto das caixas, pude ouvir as gargalhadas do público, os aplausos. E se realmente tivessem frustrado o público, muitos espectadores teriam saído de lá. Não foi o caso.

Para completar, no final do show, Kleiton, Kledir e o Grupo Tholl desceram do palco e se misturaram com o público. Isso é maravilhoso, "todo artista tem de ir onde o povo está", como canta Milton Nascimento. A tal matéria "jornalística" nem deveria ter saído. Lembremo-nos de que a dupla veio a Curitiba em dezembro de 2009 em uma apresentação gratuita no mesmo local, no Paço da Liberdade e que em janeiro de 2005 participaram da XXIII Oficina de Música de Curitiba, dividindo com estudantes de música seus conhecimentos. Sinceramente, a dupla merecia mais respeito por parte do jornal. Sorte que tiveram do público. Parabéns aos dois e ao Tholl!

Integrante da trupe mostrando um de seus números antes do show

A dupla logo que subiu ao palco

sábado, 14 de abril de 2012

Declaração



De: Chuva
Para: Curitiba

"Eu voltei!
Agora pra ficar
Porque aqui
Aqui é meu lugar."

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A chuva, cadê?



Figura carimbada, a chuva não veio mais a Curitiba. Deu uma de curitiboca, logo ela que sempre batia cartão por aqui. Também pudera, quem diria, Curitiba resolveu abrir as portas pra uma tal de La Niña. Logo ela, a cidade mais fechada, aquela que não fala com estranhos, aceitou o convite de amizade dessa estrangeira.

Daí já viu, para segui-la no Twitter, foi um pulo! E a chuva que até transbordava um pouco nossos bueiros se mandou. Não quis saber de coisa alguma, enciumou-se. Ai, que chique, anota aí, "enciumou-se", vai que você usa a palavra assim, conjugada desse jeito e faz a peruada topetuda se roer de inveja, amiga, daí! E os piá de prédio vão sair correndo de medo, ui, não curtem e nem seguem inteligentes, arrasou, amiga, quer dizer, conhecida, porque curitiboca não tem amigos!

Ê, bando de jacu!

É melhor rir do que criticar. Se você não pode contra eles, ria deles, divirta-se! Como não consigo mudar o jeito curitiboca de ser dos demais, vou transformar esse espaço em algo mais alegre. Porque afinal de contas, só reclamar é bem típico de curitiboca!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Salvos Colombo e São José dos Pinhais

Cratera se abre na Avenida João Gualberto, rachadura aparece na Rua Padre Anchieta. Não é 2012 com seu fim do mundo chegando, é somente o fim para Curitiba.


Padre Anchieta Foto: Ivonaldo Alexandre / Agência de Notícias Gazeta do Povo



João Gualberto. Foto: Aniele Nascimento / Agência de Notícias Gazeta do Povo


Lamentações de Curitiba (Dalton Trevisan)

A palavra do Senhor contra a cidade de Curitiba no dia de sua visitação.
Suave foi o jugo de Nabucodonossor rei de Babilônia, diante de Curitiba escarmentada sob as patas dos anjos do Senhor como laranja azeda que não se quer comer de azeda que é.
Ai, ai de Curitiba, o seu lugar será achado daqui a uma hora.
Gemerei por Curitiba; sim, apregoarei por toda a Curitiba a nuvem que vem pelo céu, o grito dos infantes a anuncia porque o Senhor o disse.
A chuva de ais inundará a terra sem subir ao céu; e no céu verão as costas do Senhor; e no céu sem lua nem sol a tampa descida do céu.
No dia de suas aflições os vivos serão levados pela mão dos mortos para a morte horrível. Da cidade não ficará um garfo, aqui uma panela, ali uma xícara quebrada; ninguém informará onde era o túmulo de Maria Bueno.
O dia virá no meio do maior silêncio com um guincho.
O que fugir do fogo não escapará da água, o que escapar da peste não fugirá da espada, mas o que escapar do fogo, da água, da peste e da espada, esse não fugirá de si mesmo e terá morte pior.
O relógio da Praça Osório marca a hora parada do dia de sua visitação.
Ó lambari vermelho do rio Ivo, passou o tempo assinalado.

Os abutres afiam seus bicos revurvos por causa do dia que vem perto. Escorrerá devagar o tempo como azeite derramado, eis a chaga da aproximação do dia. Cada um exibe na testa o estigma da besta; aqui há sabedoria.
O pânico virá num baile de travestis no Operário, no meio do riso; o riso não será riso, diz o Senhor, as bicharocas desfilarão diante do espelho e não darão sua imagem.
Diz o Senhor: eis que Eu entrego esta cidade nas mãos de Baal e dos filhos com rabo de Baal, e tomá-la-ão.
Este é o povo que morreu de espada: cento e noventa mil e sete almas e mais uma; todas as almas perdidas numa hora e sem um só habitante.
A estátua do Marechal de Ferro madrugará com os olhos na nuca para não ver.
Os ipês na Praça Tiradentes sacolejarão os enforcados como roupa secando no arame.
De assombro as damas alegres da Dinorá atearão fogo ao vestido gritando nas janelas o fim dos tempos.
No rio Belém serão tantos os afogados que a cabeça de um encostará nos pés de outro, e onde a cachaça para mil e um velórios? Os ratos de rabinho satisfeito hão de roer todo o dinheiro do Banco de Curitiba.
Para embainhar minha espada, diz o Senhor, os vinte e três necrófilos da cidade casarão em comunhão de bens com suas noivas desenterradas e vestidas de branco.
A filha de meu povo será um pátio no Asilo Nossa Senhora da Luz com seus urros e maldições.
Muitos correrão para baixo da cama e cada um terá mais de uma morte: uma, a que escolher e a outra pela espada do Senhor, que já assobia no ar.
O rio Barigui se tingirá de vermelho mais que o Eufrates. Um sino baterá no ouvido dos homens e eles se esborracharão feito caqui maduro. As filhas vaidosas de sua cidade suspirarão. Chorarão pedras de sangue dizendo: Não existe dor como a minha dor. Depois hão de chorar os próprios olhos com dois buracos na cara.
Ai de Curitiba, perece o teu povo e se quebranta meu coração, porque é o dia da visitação, diz o Senhor. Dos teus lambrequins de ouro, das tuas cem figurinhas de bala Zequinha. Do teu bebedouro de pangarés, a gente perguntará: que fim levarão?
Dá uivos, ó Rua XV, berra, ó Ponte Preta, uma espiga de milho debulhada é Curitiba: sabugo estéril.
O terror arrombará as portas, os macaquinhos do Passeio Público destelharão as casas, a cidade federá como a jaula de um chacal doente.
Onde estarão todos os leões de pedra que guardam as casas de teus ricos e os tatus de rabo amarelo que guardam os teus medrosos leões?
Maldito o dia em que o filho do homem te habitou; o dia em que se disse nasceu uma cidade não seja lembrado; por que não foste sempre um deserto, em vez de cercada de muros e outra vez sem um só habitante?
Ó Curitiba Curitiba Curitiba, estendes os braços perfumados de giesta pedindo tempo, quando não há mais tempo.
Ó Curitiba Curitiba Curitiba, escuta o grito do Senhor feito um martelo que enterra os pregos.
Teu próprio nome será um provérbio, uma maldição, uma vergonha eterna.
Curitiba, o Senhor chamou o teu nome e como o de Faraó rei do Egito é apenas um som.
A espada veio sobre Curitiba, e Curitiba foi, não é mais.
Não tremas, ó cidadão de São José dos Pinhais, nem tu, pacato munícipe de Colombo, a besta baterá voo no degrau de tuas portas. Até aqui o juízo de Curitiba.

terça-feira, 1 de março de 2011

Sem catraca

Hoje, na primeira edição do jornal da RPC (afiliada da Rede Globo), uma matéria foi apresentada sobre alunos que invadem as estações tubo sem pagar pela passagem. Isso, segundo a reportagem e alguns usuários, é um desrespeito.

Pois bem, analisemos, se houvesse escolas próximas às casas desses estudantes, não precisariam pegar ônibus todos os dias. Se houvesse passe gratuito para eles, não seriam tratados como delinquentes, segundo afirmou o político e presidente da Urbs, Marcos Isfer. Ele questionou na reportagem se os pais sabiam dessa atitude dos filhos, "o que fazem com o dinheiro da passagem? De repente compram drogas". Não pensa ele que são R$ 101,20 a menos no orçamento mensal da família por causa da tarifa. Isso se ela se mantiver em R$ 2,20, isso se o casal tiver somente um filho, isso se não causar indignação de ir à escola, pagar R$ 4,40, ida e volta, e não tiver aula.

Não contente, Marcos Isfer ainda chamou os estudantes de "playboyzinhos". Como se ele não fosse defensor dessa "categoria". Afirmou ainda que se fazem isso hoje, amanhã poderão ser criminosos. Estava ele descrevendo um político? Os governantes que tratem de dar condições melhores e educação de qualidade para não transformarem nossos jovens em futuros políticos, quer dizer, bandidos.

P.S.: O presidente da Urbs deveria se preocupar mais com a sinalização próxima aos terminais de ônibus. Ele não dá atenção a isso porque quem anda de ônibus é pobre. Esquece que o veículo a ser atingido pode ser o dele... Neste caso, não foi: Leia no link

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Curitibágua

Rodolfo Buhrer (Gazeta do Povo)


Há um mês, escutei um comentário infeliz de um colega de trabalho, o mesmo que falou absurdos sobre os eleitores de Dilma. Quando houve aquela tragédia no Rio de Janeiro, com os deslizamentos de terra, enxurradas e centenas de mortos, os dizeres desse patético curitiboca foi o seguinte: "Isso ocorreu lá no Rio porque o povo carioca é porco, fica jogando lixo nas ruas que entope os bueiros e dá enchente".

Pois então, caríssimos, vejam só, ontem ele teve de ir às pressas para casa porque a água estava invadindo sua propriedade. E é a segunda vez que isso ocorre com ele, em plena Curitiba dos sonhos. "A língua é o chicote da bunda".